Bispos falam sobre visita ao papa Francisco: “conversa espontânea e ambiente familiar”

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Os bispos do Regional Centro-Oeste da CNBB têm nesta quarta-feira, 12 de fevereiro, uma jornada cheia de compromissos. De manhã, deverão visitar a Congregação para o Culto Divino, a Secretaria de Estado da Santa Sé e Congregação para a Educação Católica. De tarde, eles vão visitar o Colégio Pio Brasileiro. Lá eles rezam missa com os padres estudantes e participam de um jantar.

Visita ao papa

Na terça-feira, 11 de fevereiro, os bispos se reuniram com o Papa Francisco, no Vaticano. Pe. Francisco Agamenilton, administrador diocesano de Uruaçu, resumiu o encontro do seguinte modo:

O ponto central da jornada de hoje foi a audiência com o Santo Padre, o Papa Francisco. Fomos cordialmente recebidos por ele que se deteve conosco de 10h30 às 12h45. O ambiente foi bastante familiar. Sentimo-nos como irmãos que se sentam para juntos conversarem sobre coisas importantes que tocam a vida pessoal e a missão de pastores responsáveis por um povo. A conversa foi muito espontânea. Correspondeu primeiramente a Dom Waldemar apresentar ao Papa uma síntese do nosso Regional em todos os seus aspectos. Em seguida, começamos o diálogo com Francisco de modo muito livre sobre alguns temas com suas respostas por parte do papa. Eis alguns deles:

Discernimento na vida pastoral. O discernimento é um dom do Espírito Santo. Ele se dá de modo gradual e, como é próprio do Espírito, de modo muito livre, longe da rigidez. Discernir não é cair no relativismo, nem se desfazer da disciplina eclesiástica. É um estilo de vida próprio de quem vive a vida no espírito. Para responder bem a esta questão, o papa nos presentou o livro de Marcello Semerano, intitulado Ascoltare e curare il cuore. Il discernimento nella vita dei pastori della Chiesa, publicado pela Libreria Editrice Vaticana em 2019. Neste livro, em seu prefácio, Francisco diz; “o discernimento evangélico é o ‘lugar’ onde, à luz do Espírito, se procura reconhecer o específico chamado que Deus faz ressoar à Igreja e a cada um nas inéditas situações históricas”.

Perseguição e martírio dos cristãos católicos. O papa nos recordou que hoje há mais mártires cristãos que no início da Igreja e nos desenhou o mapa destas perseguições.
Imigração, pobres. A acolhida ao imigrante tem sua raiz bíblica: “recordar-te que foste escravo no Egito”, “era estrangeiro e me acolheste”. A migração ocorre muitas das vezes por causa da fome e da guerra. É possível acolher e integrar as pessoas em uma nova terra. O povo do continente americano é em boa parte resultado da imigração.

Seitas. É importante diferenciar as seitas das igrejas cristãs históricas e outras comunidades cristãs mais bem formadas. O combate às seitas não se faz com proselitismo da nossa parte e sim com o testemunho. Recordando Bento XVI, na abertura da Conferência de Aparecida, 2007, Papa Francisco disse: “o cristianismo não cresce por proselitismo, mas por atração”. A igreja primitiva não tinha um plano de pastoral e crescia bastante pela atração. Por isso, aprendamos com os Atos dos Apóstolos para fazermos um bom trabalho pastoral.

Economia. Uma economia para a pessoa humana e não ao contrário. O papa destacou o encontro próximo com os jovens economistas, em Assis, e suas grandes esperanças nas novas gerações.

Clero jovem e como envelhecer como padre. O papa reforçou a necessidade e importância do bispo estar próximo de Deus pela oração, dos padres, dos demais bispos e do Povo de Deus. Ao saber que um padre lhe deseja falar, procure-o no mesmo dia ou no dia seguinte. Que este padre saiba que ele tem um pai. Sobre o padre idoso, crie em torno a ele o sentido de avô. Tenha-o junto a outros sacerdotes e seminaristas. Assim, se favorece o pacto intergeracional.

Piedade popular. O papa nos incentivou à promoção da piedade popular e indicou a Evangelii Nuntiandi, número 48, como melhor ponto de referência para este assunto.
Ao final do encontro, Dom Washington presenteou o papa Francisco com a imagem do Divino Pai Eterno e deixamos com ele cópia da última edição da Revista Uma voz no Centro-Oeste. Da parte do papa, recebemos terços, o livro de Marcelo Semeraro, acima indicado, e uma bela medalha de Nossa Senhora.

Basílica de São Paulo Fora dos Muros

Às 16h de Roma, os bispos participaram da Missa na Basílica de São Paulo Fora dos Muros. Dom Washington Cruz, arcebispo de Goiânia, presidiu a celebração. Na homilia, ele disse: “estamos a milhares de quilômetros de distância de Roma e a das nossas queridas dioceses, no Brasil. Um oceano de águas, de sentimentos e de missão nos liga às nossas origens e o nosso destino. Sobre o altar desta Basílica, temos a graça de comungar do Corpo e Sangue de Cristo e na coluna eclesial de sustentação desse altar repousam, em silêncio, o corpo decapitado e a memória do Apóstolo Paulo. Assim como ressoou aos ouvidos e ao coração de Paulo, hoje nos ressoam, com força, essas palavras proclamadas no Evangelho: ‘Ide pelo mundo, anunciai o Evangelho’. Este mandato do Ressuscitado foi especialmente dirigido aos onze, nós os sucedemos e, por isso, devemos continuar fazendo o que Cristo nos ordenou”.

Dom Washington, em seguida, compartilhou uma recordação: “lembro-me, com viva memória, quando São Paulo VI promulgou a Encíclica Evangelii Nutiandi. O Cardeal Giovanni Montini, apenas eleito papa, havia escolhido para si o nome de Paulo. A evangelização no mundo contemporâneo era-lhe um desafio e imperativo apostólico. Por isso, com razão, ele questionava: ‘o que é que é feita, em nossos dias, daquela energia escondida da Boa Nova suscetível de impressionar profundamente a consciência dos homens?’ (EN, 4). Depois do questionamento, admoestava-nos São Paulo VI: ‘Em nome do próprio Senhor Jesus Cristo, em nome dos apóstolos Pedro e Paulo, nós exortamos todos aqueles que, graças aos carismas do Espírito Santo e ao mandato da Igreja, são verdadeiros evangelizadores, a demonstrarem-se dignos da própria vocação, a exercitarem-na sem reticências nascidas de dúvidas ou do medo e a não descurarem as condições que hão de tornar essa evangelização, não apenas possível, mas também ativa e frutuosa’ (EN, 74). Tornar-se digno da própria vocação! Esta é a exigência prévia de nosso ministério. Só então, nos tornando dignos, poderemos ir pelo mundo, chegar até o Centro-Oeste do Brasil e evangelizar com destemor, convicção e amor”.

Embaixada brasileira junto a Santa Sé

No fim da tarde, convidados pelo embaixador brasileiro junto à Santa Sé, os bispos participaram de uma reunião e de um jantar. Padre Agamenilton resumiu assim: “fomos cortesmente recebidos pelo senhor Henrique da Silveira Sardinha Pinto, embaixador do Brasil junto a Santa Sé, e sua equipe, no palácio residencial do embaixador. Depois de um momento de diálogo, o senhor Henrique nos ofereceu o jantar”.

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Partilha sobre o encontro com o papa

Dom Nélio Domingos Zortea, bispo de Jataí (GO):

“Palavra fundamental: familiaridade, proximidade. A maneira como o Santo Padre conduziu a nossa conversa, o nosso diálogo, foi como se faz numa conversa familiar. Um pai que está a instruir os seus filhos”.

Dom Marcony Vinicius Ferreira, bispo auxiliar de Brasília (DF):

“Creio que em primeiro lugar que estar com Pedro é estar em unidade com toda a Igreja de Cristo, é ser fiel a tudo aquilo que o sucessor de Pedro nos coloca, hoje na pessoa do papa Francisco. E por ser quem é, uma alegria muito grande pela simplicidade, abertura. O papa nos deixou muito livres para perguntarmos o que queríamos, para colocar o que queríamos. Nos acolheu muito bem no Palácio Apostólico e partilhou conosco, respondendo as nossas perguntas, nossas inquietações sobre a vida da Igreja nos dias de hoje. Então, estar com o Santo Padre além da alegria que todos sentem de estar com o papa é igualmente fortificar nossa fé, é estar unido a Pedro, é ter uma resposta daquele que Cristo colocou como princípio de unidade e de comunhão da sua Igreja. Foi uma manhã extremamente valiosa no sentido do encontro e também do conteúdo daquilo que o Santo Padre nos colocou pastoralmente, como devemos agir como pastores de nossas dioceses”

Dom Francisco Rodrigues, bispo de Ipameri (GO):

“A experiência nossa tem uma expressão muito grande com relação a comunhão. Experiência de fraternidade e proximidade do Santo Padre, muita cordialidade, muita simplicidade. Tudo isso gera uma segurança, uma tranquilidade para a gente. E mais ainda: a certeza de que a gente participa do ministério que nos é dado por Cristo Jesus numa perfeita comunhão eclesial estando em Roma ou estando em nossas Igrejas e comunidades. Então, esta foi uma experiência de comunhão”.

Dom Washington Cruz, arcebispo de Goiânia (GO):

“Realmente foi uma visita muito calorosa, muito espontânea. Quase todos os bispos falaram, fizeram suas perguntas e o Santo Padre respondeu com muita sabedoria. A gente estava muito tranquilo diante do papa. Foi uma visita muito bela e peço a Deus que aquilo que o papa nos disse possa ser objeto de muita reflexão e possa servir às nossas Igrejas Particulares, especialmente no que tange a Pastoral e no cuidado dos sacerdotes e dos seminaristas”.

Dom Waldemar Passini, bispo de Luziânia (GO):

“Hoje pela manhã, tivemos o encontro com o Santo Padre, alguns minutos antes do previsto, era por volta de 10h15. A experiência do encontro, em primeiro lugar, causou um grande sentimento de acolhida. O Santo Padre se mostrou extremamente acolhedor com cada um dos bispos. Já no início, na saudação inicial, e depois ao nos dar imensa liberdade para tocarmos em qualquer tema que fosse de nosso interesse. Portanto, foi um encontro que não tinha uma pauta. Ele não fez um discurso e nos disse algo que tinha preparado, mas dialogou conosco. Foi um momento de muita liberdade. Nós, os bispos, estávamos todos muito contentes de estarmos com o papa Francisco e pudemos apresentar a ele as questões que iam surgindo, as mais sentidas, as mais importantes para nós, após uma introdução que eu fiz como presidente do regional, apresentando, indicando para ele alguns traços da nossa região Centro-Oeste, o coração do Brasil, com esse grupo de bispos que inicia essa Visita Ad Limina. Então, se somou a acolhida, a gentileza, a espontaneidade do papa Francisco. A segurança, nós sentimos muita segurança na sua fala. O apoio para estarmos realmente atentos aos sinais do Espírito, a vivermos um discernimento contínuo; um chamado a prudência no governo das Igrejas, no sentido de estarmos sempre atentos aos sinais de vida, às solicitações, as portas que Deus vai abrindo no caminho da Igreja, em cada diocese para a evangelização”.

Monsenhor Vanildo Fernandes da Mota, Administrador diocesano de Rubiataba-Mozarlândia (GO):

“Eu esperava por esse momento. A alegria é muito grande no meu coração porque nós encontramos um papa que é pai, que é irmão, que tem um coração grande, misericordioso e que acolheu a todos nós do Regional Centro-Oeste muito bem. Todos nós vamos voltar para as nossas dioceses com uma palavra de fé, de esperança, de confiança e sabedores que poderemos fazer coisas em nossas dioceses para fazer com que nossa Igreja seja mais alegre, mais viva, mais uma Igreja em saída, mais uma Igreja missionária. Eu estou muito feliz com esse momento vivido hoje pelo Regional Centro-Oeste, essa visita com o Santo Padre, o papa”.