Entre os dias 10 a 14 de marços, aconteceu no Convento Mãe Dolorosa (Irmãs Franciscanas da Mãe Dolorosa) em Goiânia-GO o Retiro do Clero da Diocese de Ipameri e de Itumbiara. Um momento importante para que os Sacerdotes possam por meio da oração ouvir a voz de Deus. O Retiro é uma oportunidade de se aproximar mais de Deus, um encontro mais íntimo com o Senhor, de uma forma mais intensa.
O Retiro espiritual é de suma importância para olhar se estou mantendo vivo em meu viver o Espírito do Senhor e Seu santo modo de operar, que, aliás, é um imperativo aos discípulos missionários que viveram e nos motivam a viver este, período de deserto. O retiro espiritual é um evento que proporciona um período de afastamento da rotina para meditar, refletir e buscar a unidade com Deus. Um tempo para meditar e refazer uma voltar ao primeiro amor.
O Retiro iniciou-se as 19h de segunda-feira 10 de março, com o jantar. Logo em seguida todos foram para a sala de conferencia para programar as atividades a ser realizadas, durante o retiro entre as dioceses. Assim, fez a apresentação o Pe. Samir Gervásio Ferreira, da diocese de Itumbiara, responsável pelo Clero. Conduziu a prévia do retiro Dom João Inácio Mulher – Arcebispo de Campinas – SP. Falando dos principais pontos que seriam aplicados no retiro 2025: Dá-me de beber, Lava-pés, Bocado, A Espiritualidade presbiteral, Comunhão, participação e missão, Peregrinos da Esperança e por fim a Mensagem do Papa sobre a Quaresma.
O primeiro tema: Dai-me de beber
Jesus o esposo passa pela Samaria, com o intuito de encontrar a esposa perdida: É preciso que o Filho vá ao encontro dos seus irmãos afastados. Por isso, em Jo 4,7, quando Jesus pede água a uma mulher Samaritana. Jesus estava cansado de uma viagem e sentou-se junto à fonte de Jacó. Uma mulher samaritana veio tirar água. Jesus pediu-lhe um pouco de água para beber. A mulher perguntou como Jesus, sendo judeu, lhe pedia água, já que os judeus não se relacionavam com os samaritanos. Jesus respondeu que se ela conhecesse o dom de Deus e quem lhe pedia, ela lhe pediria água viva. Jesus disse que quem bebesse da água que ele lhe desse nunca mais teria sede.
O texto de João nos apresenta como significado? A narrativa de João nos mostra que para amar a Deus, é preciso conhecê-lo, pois ninguém ama o que não conhece. Jesus se revelou à mulher samaritana como a fonte de água viva que a saciaria.
Segundo tema: Lava-pés
O lava-pés é um gesto de humildade, serviço e amor ao próximo. Jesus lavou os pés dos seus discípulos durante a Última Ceia. A ação que Jesus demonstrou ao lavar os pés dos discípulos é tido como um momento de total esvaziamento de nós mesmos, de nossa autossuficiência e da elevação dos outros.
Lembrando que o lava-pés não é uma cerimônia nem uma encenação. É um jeito de viver, um estilo de vida, uma lógica de amor. Lava-pés é descer dos nossos pedestais, colocar-nos na situação dos outros, sendo empáticos e tratá-los como nossos melhores amigos. A espiritualidade do lava-pés hoje, diante desta realidade sofrida, violenta, pela qual se vende o ser humano como mercadoria, sendo coisificado, objeto de troca, cultuando cada vez mais o “deus mercado”, chama-se solidariedade, compaixão e comunhão.
O Gesto do Lava-pés tem como protagonistas Jesus e Pedro. Mas, a bem da verdade, isso assume o seu pleno significado de amor, por Pedro e pelos demais discípulos, até mesmo com o próprio Judas que recebe o “bocado”, sinal do amor irrevogável. Jesus “amou-os até o fim”. Não existe amor maior do que dar a vida pelos próprios inimigos (Rm 5,8; 1Jo 4,10). Lavar os pés era gesto de hospitalidade e de acolhida, um gesto de solidariedade para com quem chega. Por isso: queres ir ao Pai? Anda com Jesus! Queres saber quem é o Pai? Escuta a Jesus, a Verdade! Queres agora e sempre com o Pai? Vive com/como Jesus, a fonte e a própria Vida.
Cena do Bocado
Dito isso, Jesus ficou perturbado em seu espírito e declarou abertamente: “Em verdade, em verdade vos digo: um de vós me há de trair!…”. A traição é prevista e afirmada com autoridade divina. O pecado é o lugar no qual se revela o perdão.
Jesus molha um pedaço de pão e dá-o a Judas Iscariotes. O espírito mal entra em Judas imediatamente após ele receber o bocado, Jesus diz a Judas: “O que pretendes fazer, faze-o depressa”. Nenhum dos que estavam à mesa entende o que Jesus quis dizer. Hora, Judas era o tesoureiro do grupo e “trazia a bolsa”, alguns pensaram que Jesus estava dizendo a Judas para comprar comida ou dar dinheiro aos pobres.
Entre a ação realizada por Judas a Jesus, há dois elementos importantes: a negação e a admissão da culpa. Judas sabia que iria trair Jesus. Ele já tinha decidido por isso, mas come com o Mestre no mesmo prato, demonstrando-lhe um falso sentimento. Era o costume judaico comer na mesma panela. Jesus conhece a pretensão de Judas e, por isso, dá a conhecê-la. Qual Mestre/Pai/Mãe que não conhece o seu discípulo, seu filho? Não é Deus quem escolhe Judas para traí-lo, Judas opta por agir desse modo. Judas representa cada pessoa, inclusive os judeus e os discípulos. Somos todos pecadores, privados da glória de Deus, e justificados gratuitamente pela graça (cf. Rm 3,23s). Jesus revelando a traição, não entende denunciar o traidor; oferece-lhe, ao contrário, a sua amizade, embora sendo que a rejeita. Mostra assim, a própria fidelidade ao amigo infiel. Jesus Cristo desde o primeiro encontro com cada discípulo, Ele-os amou por primeiro. Jesus conhecia o que se passava com cada um deles, em especial Judas.
O amor de Jesus pelos seus discípulos foi demonstrado por meio de gestos e atitudes, tendo para com cada um, cuidado e paciência para os levar ao pleno estado de graça. Ele os amou não pelo que eram, mas pelo que poderiam ser n’Ele.
Jesus, cuidou das necessidades físicas e materiais dos discípulos, muitas vezes antes que eles lhe pedissem, reconheceu que os discípulos tinham necessidades espirituais e fez provisões para supri-las, ensinou aos discípulos, muitas vezes dando-lhes atenção especial, proferiu o Sermão da montanha especialmente para os discípulos, explicava tudo em particular aos seus discípulos quando ensinava usando parábolas. Tudo isso se resumia no mandamento do amor: “Amai uns aos outros, assim como eu vos tenho amado” (Jo 15,12). Por isso, Jesus amou Judas Iscariotes, apesar de este o ter traído. O amor de Jesus por Judas é um exemplo do amor gratuito que Deus tem por todos.
A Espiritualidade presbiteral
A espiritualidade presbiteral é a espiritualidade de serviço, baseada na oração e na vida de fé, e tem como finalidade a vivência da caridade pastoral.
Na Presbiterorum Ordinis no primeiro capítulo “O presbiterado na missão da Igreja”. A este respeito diz Santiago del Cura Elena: “Nem a natureza da Igreja pode entender-se à margem da sua missão, nem a missão que lhe é própria pode deixar-se ao lado quando se intenta compreender a identidade do sacerdócio ministerial. […] Quer dizer, a missão e a identidade do sacerdócio ministerial refletem-se na sua condição do serviço eclesial ao sacerdócio comum de todos os batizados”. (ELENA, 2010, p.40-41). Ao falar da espiritualidade própria do presbítero. Conclui que sua essência é o amor: amor a Deus e amos aos irmãos, especialmente aos mais sofridos e excluídos.
O Presbítero deve ser um homem que faça as vezes do Bom Pastor, no exercício da caridade pastoral agindo in persona Chisti Capitis. Contudo, Jesus Cristo é e continua sendo o único Cabeça e Pastor, sendo os bispos e os presbíteros, pelo sacramento da Ordem, reais participantes deste ser Cabeça e Pastor, e que é Cristo. Toda a vivência presbiteral deve estar enraizada no amor de Cristo. Por Cristo, com Cristo e em Cristo. Se o sacerdote é, pois, “instrumento vivo de Cristo Sacerdote” (PO, 12), é, por ele mesmo, “o máximo testemunho do amor” (PO 11).
A espiritualidade presbiteral é bíblica, eucarística e missionária, tal como exemplificado no episódio dos discípulos de Emaús. A partir do Evangelho dos discípulos de Emaús vimos que as quatro dimensões da formação (humana, espiritual, intelectual e pastoral) devem estar integradas, interagindo entre elas e não de forma separadas. A espiritualidade, contudo, perpassa todas as dimensões.
No relato dos discípulos de Emaús Jesus não é visível, mas está vivo. É o ausente que se faz presente em seus sinais: leitura da Palavra, ceia fraterna, fração do pão. Assim, pode-se dizer que cada vez que a comunidade cristã anuncia a morte e ressurreição de Jesus ‘segundo as Escrituras’, converte-se em sinal sacramental de Cristo e mediação da passagem da ‘não fé’ à fé, isto é, do ‘desconhecimento’ ao ‘reconhecimento’, do desconcerto à missão.
O Documento de Aparecida retoma a vivência da espiritualidade presbiteral: A vida espiritual do Presbítero está fundada na caridade pastoral que se nutre na experiência pessoal com Deus e na comunhão com os irmãos; também no cultivo de relações fraternas com o Bispo, com os demais Presbíteros da Diocese e com os leigos (DAp, 195). Uma relação que nos faz retomar o caminho do discipulado para chegar a plena ação configurativa com o Mestre que ao falar aquece o coração do Presbítero.
A espiritualidade do Presbítero está no apascentar (serviço), ao próximo. Um cuidado que os leve a reconhecer no Pastor o amor de Deus: “Apascentai o rebanho de Deus que vos foi confiado” (1Pd 5,2). Para que o processo no discipulado se encaminhe bem, é preciso uma aproximação com o Mestre, com Jesus, ou seja, ser amigo. “Já não vos chamo servo, mas amigos”. Este é o profundo significado do ser sacerdote: tornar-se amigo de Jesus Cristo. Por esta amizade, devemos renovar todos os dias o nosso compromisso por meio da oração. O sacerdote deve ser, um homem de oração. A oração conduz o presbítero a missão, o capacita e o fortalece para enfrentar os obstáculos da vida cotidiana. “Aos presbíteros que estão entre vós, exorto eu, que sou presbítero como eles e testemunha dos sofrimentos de Cristo e participante da glória que há de ser revelada: apascentai o rebanho de Deu, que vos foi confiado; cuidai dele, não por obrigação, mas de livre vontade, como Deus quer, de boa vontade (por devoção); não como senhores (dominadores) daqueles que vos couberam por sorte, mas, antes, como modelos do rebanho…” (1Pd 5, 1-5).
Comunhão, participação e missão
As diretrizes/palavras-chaves, oferecidas pelo Papa, sobre o percurso sinodal: comunhão, participação e missão” (09.10.21). Essas palavras sinalizam o caminho para o futuro da Igreja, mas também sua origem transcendente. Comunhão, participação e missão são dimensões que estão inter-relacionadas e são fundamentais para uma Igreja sinodal.
A dimensão da Comunhão: O primeiro raio de luz de Cristo, “que resplandece no rosto da Igreja” (LG 1), é a comunhão, já na primeira Carta de João percebemos a constância de que a comunhão entre os crentes e com Deus é a finalidade explicita do anuncio do Evangelho. Por isso, a comunhão é a relação entre os membros da Igreja e com Deus. Uma relação construída através das relações com as pessoas e com Deus, um ato que estimula o amor e as boas obras para que se possa viver a glória de Deus. Por isso assim, em nossas Igrejas particulares, sejamos promotores de unidade, de encontro e de comunhão.
A dimensão da Participação: O segundo raio de luz “de Cristo que resplandece no rosto da Igreja”: a participação. Cristo faz a Igreja participe da sua própria vida. Criando as condições para que todos os batizados participem ativamente na vida comunitária, cada um oferecendo sua contribuição. A participação é o ato de estar presente na vida da comunidade, da família e da sociedade, é um compromisso eclesial irrenunciável, sendo uma forma de ser discípulo e missionário de Jesus Cristo, vivendo e sendo parte do povo de Deus.
A dimensão da Missão: O terceiro raio de luz que emana de Cristo e ilumina o rosto e o percurso sinodal da Igreja é a missão. Esta luz bilha na natureza comunicadora do povo de Deus, que não caminha no mundo e na história orientando as suas ações apenas para a própria preservação, mas tem por objetivo servir à presença do Reino e anunciar Cristo a que não O conhece. Por isso a missão da Igreja é convocar todos os batizados a acolher o dom da salvação em Cristo, para que todos participem e sejam parte de uma Igreja sinodal que caminha em comunhão exercendo a sua missão na unidade de sua experiência de fé.
A beleza da Igreja sinodal é manifestação da própria vida trinitária na atribulada história atual. A Igreja é uma realidade intimamente ligada a Cristo, de Quem depende vitalmente. Ela é ou deveria ser espelho do amor de Cristo, reflexo do seu esplendo. Ser Igreja sinodal é o esforço coletivo e a busca contínua de aprendermos a “caminhar juntos”, como irmãos e irmãs. É um jeito de ser Igreja no qual cada pessoa é importante, tem voz, é ouvida, capacitada e envolvida na realização da missão. Já não se trata de estar uns acima dos outros, mas de nos colocarmos unidos para juntos, fazermos a experiência de fé diante dos desafios internos e externos que se apresentam em nosso dia a dia.