Nesta Quarta-feira de Cinzas, 6 de março, tem início a Quaresma. Trata-se de um tempo forte da Igreja em que somos todos chamados à conversão, conforme nos exorta o Evangelho: “Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1, 15). A partir disso é necessário renovar a fé na morte, paixão e ressurreição de Cristo e assumir a identidade e compromisso no itinerário quaresmal, que se estende até a Quinta-feira Santa, 18 de abril.
Nesta Quarta-feira (6), além da simbologia de receber as cinzas, somos convidados também a reconhecer nossa própria fragilidade e mortalidade, pois “do pó vieste e ao pó voltarás” (Gn 3, 19). Neste tempo cada um deve admitir que por meio da misericórdia e do amor divino se encontra o sentido da própria existência.
O papa Francisco divulgou a Mensagem para a Quaresma 2019, no dia 26 de fevereiro, com o título “A criação encontra-se em expectativa ansiosa, aguardando a revelação dos filhos de Deus”, extraído de Romanos 8,19. No texto, o Pontífice oferece algumas propostas de reflexão para acompanharem o caminho de conversão nesta Quaresma. Em um trecho da mensagem, Francisco destaca: “Como sabemos, a causa de todo o mal é o pecado, que, desde a sua aparição no meio dos homens, interrompeu a comunhão com Deus, com os outros e com a criação, à qual nos encontramos ligados antes de mais nada através do nosso corpo. Rompendo-se a comunhão com Deus, acabou por falir também a relação harmoniosa dos seres humanos com o meio ambiente, onde estão chamados a viver, a ponto de o jardim se transformar num deserto” (cf. Gn 3, 17-18).
A Quaresma é marcada por alguns aspectos como a cor litúrgica utilizada – o roxo, que simboliza a penitência. Além disso, nas missas há a ausência do Aleluia e do Glória; a ornamentação e as músicas são mais sóbrias e as imagens são cobertas em grande parte das igrejas. Embora para muitos esses aspectos apresentem um período de tristeza, esse tempo quaresmal não é de isolamento, mas de recolhimento. É no silêncio que devemos rever nossa própria vida, a fim de uma mudança e da conversão em direção a um caminho determinado que é Deus.
Fraternidade e penitência são também fundamentais para a vivência neste tempo quaresmal. Os dois devem ser praticados diante de Deus e do próximo, pois nossa relação com o próximo, muitas vezes, reflete nossa relação com Deus. A Quaresma é portanto, “o tempo propício para abrir a porta a cada necessitado e nele reconhecer o rosto de Cristo”, conforme mensagem do papa Francisco para a Quaresma no ano de 2017. É justamente por isso que a Igreja indica intensificar as obras de misericórdia, físicas e espirituais. Já a sobriedade que devemos assumir neste tempo é para propiciar o encontro. É importante, porém, que as práticas adotadas são para a conversão permanente e não podem ficar na superficialidade ou servir para autopromoção.
Simbolismo e práticas penitenciais
Na Quaresma, o número 40 é simbólico e recorda passagens importantes da Sagrada Escritura, como os 40 anos de peregrinação do povo judeu pelo deserto, os 40 dias que passou Moisés nas montanhas, os 40 dias de caminhada de Elias e ainda os 40 dias que Jesus jejuou no deserto.
Durante a Quaresma somos todos convidados às práticas penitenciais, para viver de forma mais intensa esse tempo.
Jejum: abster-se de necessidades terrenas, a fim de descobrir necessidades espirituais; livrar-nos daquilo que nos impede de alcançar a graça do Senhor.
Oração: Dedicar mais tempo à oração; ter disposição para a misericórdia de Deus.
Esmola: é o amor que se faz partilha e doação.
Na Mensagem para a Quaresma deste ano, o papa Francisco explica o sentido das práticas penitenciais. “Jejuar, isto é, aprender a modificar a nossa atitude para com os outros e as criaturas: passar da tentação de «devorar» tudo para satisfazer a nossa voracidade, à capacidade de sofrer por amor, que pode preencher o vazio do nosso coração. Orar, para saber renunciar à idolatria e à autossuficiência do nosso eu, e nos declararmos necessitados do Senhor e da sua misericórdia. Dar esmola, para sair da insensatez de viver e acumular tudo para nós mesmos, com a ilusão de assegurarmos um futuro que não nos pertence. E, assim, reencontrar a alegria do projeto que Deus colocou na criação e no nosso coração: o projeto de amá-Lo a Ele, aos nossos irmãos e ao mundo inteiro, encontrando neste amor a verdadeira felicidade”.
É fundamental ressaltar, no entanto, que a base de todas as práticas penitenciais e luz do caminho quaresmal é a Palavra de Deus. “Palavra é dom”, diz o papa Francisco, pois Deus no fala por meio dela. A Lectio Divina (Leitura Orante da Palavra de Deus) é um convite constante da Igreja, e é indicada inclusive para a prática diária. Precisamos compreender a centralidade da Palavra para o aprofundamento espiritual e por ser a Quaresma tempo forte e propício à conversão. É o momento também de propor encontros para a vivência comunitária da fé.