É preferível compreender a vida enquanto processo a uma soma de eventos. De fato, o próprio Natal, com seu tempo de preparação, para uma celebração tão significativa, pode ser um evento. Daí, ele passa. Não cria raízes. Deixa lembranças, mas podem não modificar nosso jeito de viver, nosso projeto de vida. Até que chegue outro evento, talvez a Páscoa, a Romaria Diocesana de Nossa Senhora de Fátima, alguma celebração de sétimo dia de falecimento, e, novamente, o Natal. Não desejo desfazer todo o belo esforço de uma preparação alegre, vigilante e esperançosa do tempo do Advento. Quero afirmar a necessidade de sermos católicos o ano todo, na simplicidade da vida cotidiana, vivendo a fé, a esperança e a caridade todos os dias, na minha família e na minha humilde comunidade de fé, com as pessoas imperfeitas com as quais eu convivo. Então, sim, o Advento e o Natal se integrarão num caminho, num processo que continua. Se for assim, as vivências e celebrações natalinas tendem a confirmar a grande verdade cristã, do Emanuel, do Deus conosco sempre, e incentivar ainda mais a vivermos como discípulos de Jesus Cristo.
São louváveis as inciativas propostas para este tempo. Elas são uma possibilidade de crescimento humano e cristão. Lembro o rico e orante material preparado pelo Regional da CNBB Sul3, do Rio Grande do Sul, que em todas as 18 dioceses está sendo utilizado pelos grupos de reflexão ou grupos de famílias. Recordo, ainda, as celebrações penitenciais com confissão individual; a atenção especial à oração diária, acompanhando os textos bíblicos cotidianos que ajudam a caminhar na companhia dos personagens do Advento, João Batista, Elias e Maria; os muitos gestos de caridade, sobretudo com as crianças mais pobres; a sensibilidade para perdoar se fomos feridos por alguém. Como não se encantar diante de uma árvore natalina e, sobretudo, com o presépio, onde as figuras centrais são Maria, José e o Menino Jesus? Aproveitemos este “tempo favorável” para confirmarmos nosso caminho de discípulos de Jesus Cristo. “Que poderei retribuir ao Senhor por tudo o que ele me tem dado?” (Sl 116,12).
Os quatro encontros que estamos realizando nos grupos de reflexão nos apontam para atitudes básicas para o Natal e, também, um jeito de viver a fé, de sermos cristãos hoje. A primeira atitude é a acolhida. Acolher é dar espaço a Cristo e às pessoas. Ser hospitaleiro, superando preconceitos e exclusões. A segunda atitude natalina e cristã é o diálogo. Deus se manifesta a nós no diálogo. A cultura do encontro e do diálogo é o único caminho cristão para a construção da fraternidade e da paz. A terceira atitude é o cuidado. Deus é quem nos cuida, com amor paterno. José cuidou de Maria e também do menino. Jesus disse “cuida dele” (Lc 10,35), pede que sejamos “próximos” (cf. Lc 10,37). O desafio é superar o individualismo que nos aprisiona. Cuidar, sobretudo, de quem mais precisa. E a quarta atitude é encontrar. O encontro com Jesus Cristo, sempre renovado, é fonte da nossa alegria cristã. Ajudar outros irmãos a encontrar-se com Ele é nossa missão. Encontrar-se, também, com os irmãos e irmãs, pois somos cristãos enquanto Igreja.
Tenho certeza que a vivência profunda deste tempo de Advento gerará em todos os cristãos um desejo de continuidade. Afinal, Deus está conosco sempre e, por isso, é Natal todos os dias.
Dom Adelar Baruffi
Bispo Diocesano de Cruz Alta