O Papa Francisco instituiu, em 2017, o Domingo antes da Festa de Cristo Rei, como data especial para aproximação dos fiéis com os pobres, ou seja, somos chamados a encontrar-nos com as diversas condições de sofrimento e marginalização em que vivem tantos irmãos e irmãs nossos. A temática abordada pelo Santo Padre emerge da frase bíblica do Salmo 34, 7: “Este pobre pediu socorro e o Senhor o ouviu, libertou-o de suas angústias”. O salmo afirma que o Senhor escuta os pobres, aqueles que são espezinhados na sua dignidade e, apesar disso, têm a força de erguer os olhos para as alturas, para receber luz e conforto, pois sabem que têm em Deus o seu Salvador. Emerge desta oração o sentimento de abandono, mas igualmente a confiança num Pai que escuta e acolhe.
O salmo caracteriza, com três verbos, a atitude do pobre e a sua relação com Deus: gritar, responder e libertar. A condição de pobreza torna-se um grito que atravessa os céus e chega até Deus. Este grito deveria ecoar também em nossos ouvidos, tantas vezes indiferentes e impassíveis. O Papa convida a um exame de consciência também em relação às formas de ajuda aos pobres, sem compromisso direto com a mudança de sua vida: “Muitas vezes, tenho receio que tantas iniciativas, apesar de meritórias e necessárias, estejam mais orientadas para satisfazer a nós mesmos do que para acolher realmente o grito do pobre”.
O segundo verbo é responder. Segundo a Escritura, o Senhor não só escuta o grito do pobre, mas também lhe responde. A resposta de Deus é sempre uma intervenção de salvação para cuidar das feridas da alma e do corpo, para repor a justiça e para ajudar o pobre a recuperar uma vida digna. Afirma o Papa que o dia mundial dos pobres pode ser uma gota de água no deserto da pobreza, contudo, torna-se sinal de partilha com os necessitados para sentirem a presença de um irmão e de uma irmã que procura o seu bem.
O terceiro verbo é libertar. As amarras da pobreza são quebradas pelo poder da intervenção de Deus. Segundo a mensagem do Pontífice: “Cada cristão e cada comunidade são chamados a ser instrumentos de Deus ao serviço da libertação e promoção dos pobres, para que possam integrar-se plenamente na sociedade” (EG 187).
Com o Evangelho da cura de Bartimeu (Mc 10, 46-52), Francisco lembra que há muitos pobres que também esperam por alguém que se aproxime deles e diga: “Coragem! Levanta-te, que Ele está a chamar-te”. Infelizmente, muitos condenam os pobres e os consideram como gente que deve ser rejeitada e mantida longe. Diz o Papa: “Há uma tendência a criar distância entre nós e eles, e não nos damos conta que, deste modo, nos tornamos distantes do Senhor Jesus que não os rejeita, mas os chama a Si e os consola”.
O Santo Padre valoriza os numerosos gestos de amor e salvação para com os mais necessitados em todas as partes do mundo: “São inúmeras as iniciativas que, todos os dias, a comunidade cristã leva a cabo para dar um sinal de proximidade e de conforto às muitas formas de pobreza que estão diante dos nossos olhos”. Os verdadeiros protagonistas da conversão e da caridade devem ser o Senhor e os pobres. Quem se coloca ao serviço é instrumento nas mãos de Deus para fazer reconhecer a sua presença e a sua salvação: O Papa conclui, afirmando: “Os pobres nos evangelizam, ajudando-nos a descobrir cada dia a beleza do Evangelho”.
Dom Aloísio A. Dilli
Bispo de Santa Cruz do Sul