O desafio da decisão

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É muito preocupante o indiferentismo presente nas novas gerações, capaz de desestimular a ação de quem ainda tem força para agir. O mundo não pode parar no passado e nem perder os estímulos de hoje, mas corre o perigo do não comprometimento com as conquistas de um futuro cheio de esperança. As influências desmotivadoras perpassam pelos relacionamentos hodiernos.

Existe uma forte onda de ação de muitas pessoas, que tem como meta a conquista de algo, mas realizado por caminhos de estranheza. Conforme os princípios morais, a conquista do bem não pode passar por uma trajetória de destruição. Em outras palavras, a justiça deve ser fruto de práticas fundamentadas na justiça, e não o contrário. A vida não pode ser conquistada com ações de morte.

Em vez do mal, toda decisão deve ser pautada pela realização do que ajuda no bem comum. O poder está nas mãos das autoridades, e as decisões não podem ser fragilizadas em troca de dinheiro. Não se vende a consciência para votar em projetos que favorecem o bolso de uma minoria privilegiada. Aí está a causa principal do sofrimento das pessoas atingidas por barragens.

Estamos em tempo de contradições, com focos em questões de pouca importância, e isso vem causando, aqui e ali, práticas de desumanização. O essencial, aquilo que é o valor e a dignidade da pessoa humana, não é encarado como deveria ser. Acontecem as distorções, desfigurando a identidade original de cada ser humano. As preocupações do mundo têm neutralizado a ação de Deus.

O cristão é constantemente desafiado pela Palavra de Deus. Diante do desafio de sua real opção, em meio às dificuldades e diversidade da nova cultura, seu sim vem sempre carregado de responsabilidade. Um sim que deve ser fruto do seguimento de Jesus Cristo, que exige coerência e excelência na prática do bem. Só assim conseguimos entender uma sociedade humanizada.

Toda decisão exige discernimento, misericórdia, abertura para relações fraternas e uma ética de bom relacionamento. Jesus fala de tratar as pessoas como gostaríamos que elas nos tratassem (Cf. Lc 6,31). É uma prática de reviravolta na comunidade dos cristãos, capaz de mudar as atitudes de violência e vingança, motivando as pessoas para uma prática da convivência.

Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba