Só ir à missa não é suficiente

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Para os católicos, a celebração eucarística dominical é o ponto culminante de toda a vida de fé. Nada é mais importante do que a esta cerimônia, que faz memória, atualiza para hoje, na nossa vida e na nossa comunidade, o mistério da paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo. Isto é inegável e sempre o será, como afirmaram os cristãos perseguidos do século IV: “Não é possível ser cristão sem a eucaristia”. Estes cristãos tinham clareza que a Eucaristia deve ser celebrada e transformada numa vida eucarística. Porém, sabemos que a vida cristã que se baseia somente na missa não se sustenta e não forma, por si só, discípulos missionários de Jesus Cristo. Em tempos de pós-cristandade, com acento numa cultura urbana, de uma busca individualista de Deus, faz-se necessário uma nova maneira para transmitir a fé, que possibilite a adesão livre a Jesus Cristo, vinculado a uma comunidade e levando à vivência consciente da celebração eucarística.

Todos sentimos o quanto a pergunta sobre a modalidade de transmissão da fé hoje, o “como”, é importante. Nossa Diocese assumiu com coragem a iniciação à vida cristã como um caminho que recolhe e ilumina toda a ação evangelizadora. Não é uma missão somente das catequistas. Todas as ações da evangelização devem ter este cunho missionário. “A Iniciação à Vida Cristã é uma urgência que precisa ser assumida com decisão, coragem e criatividade. Ela renova a vida comunitária e desperta seu caráter missionário. Isso requer novas atitudes evangelizadoras e pastorais” (CNBB, Iniciação à vida cristã – Doc. 107, n. 69).

A secularização está esvaziando a fé de nossas famílias. Nem todas as pessoas, após os sacramentos da iniciação, continuam a cultivar o caminho cristão. Não se opõe à fé, mas vão vivendo como se Deus não existisse. Baixou drasticamente o número de celebrações dos matrimônios. Muitos perderam o sentido do pecado, pois a referência do certo e o errado é a própria pessoa, e, consequentemente, a procura do sacramento da Penitência se fez sentir. E o que é pior, sente-se a dificuldade de ter atitudes de vida coerentes com a fé professada e a eucaristia celebrada. Por outro lado, o fato de que a vivência da fé já não mais ser, ao menos para a maioria das pessoas, uma questão de tradição, trouxe algo de positivo: a possibilidade de retornar ao essencial, a Jesus Cristo e seu Evangelho. Focar no essencial, no mais importante, no anúncio fundamental: “O amor pessoal de Deus que Se fez homem, entregou-Se a Si mesmo por nós e, vivo, oferece a sua salvação e a sua amizade” (Francisco, Evangelii Gaudium, 128). Este é o fundamental, o mais importante, ao qual sempre se deve retornar. Claro, depois, vem as consequências para a vida na Igreja e no mundo. É um estilo de viver. Jesus enviou os apóstolos ao anúncio de algo bom, grandioso, belo para o ser humano. O Papa Francisco chama de “a alegria do Evangelho”. Não são, em primeiro lugar, proibições ou questões legais: pode ou não pode. É um anúncio que suscita um encontro com Cristo, normalmente através da Palavra de Deus e com o testemunho de quem já está no caminho.

Somos desafiados a buscar os melhores caminhos para o anúncio do evangelho. A formação dos discípulos de Jesus Cristo é permanente e o horizonte deste caminho é a “maturidade da fé”, como nos diz São Paulo. Como em todas as dimensões da nossa vida, também na vida espiritual, o segredo é cultivar-se pela Palavra de Deus, catequese, cursos, oração, caridade, vida missionária e testemunho cristão no mundo. Aí sim, a celebração eucarística será a melhor catequese!

Dom Adelar Baruffi
Bispo de Cruz Alta