Precisamos crescer no respeito e no diálogo. Neste ano eleitoral, demonstramos muita dificuldade de dialogar. Muitos não tiveram a maturidade de acolher e respeitar quem pensa diferente, que vê a vida e sonha o nosso futuro de outra maneira. A construção do bem comum é feita na pluralidade. Divergir nas opiniões é algo positivo. Não é positivo, porém, debochar, destruir, ofender, maltratar, desprezar a opinião e a própria pessoa. As ofensas não contribuem para clarear as ideias e amadurecer posições políticas. Não permitamos que as palavras malditas rompam a comunhão nos lares e nas comunidades. Nenhum vencedor das eleições será capaz de curar as feridas deixadas. Neste caso, não há vencedor, todos perdem. Respeitemos a decisão de cada um. Larguemos as pedras que temos nas mãos! Recordo Santo Agostinho: “Nas coisas essenciais, a unidade; nas coisas não essenciais, a liberdade; em tudo, a caridade” (Santo Agostinho).
Precisamos crescer na comunhão em Cristo. O nome e as ideias de Jesus de Nazaré, instrumentalizadas, serviram para dividir. Paulo, missionário do evangelho da misericórdia de Deus, compreendeu bem que em Cristo somos todos irmãos. “Cristo é a nossa paz. De dois povos, ele fez um só. Na sua carne derrubou o muro de separação: o ódio. […] Ele quis, a partir do judeu e do pagão, criar em si mesmo um homem novo, estabelecendo a paz” (Ef 2,14-15). Nele a humanidade é unificada, numa grande família, como nos diz o Concílio Vaticano II: “Com efeito, pela sua Encarnação, o Filho de Deus uniu-se de algum modo a todo homem” (GS 22). Em Jesus de Nazaré, Deus tem um rosto, pode ser visto. Nele todos nos reconhecemos, estamos vinculados por um elo que precede nossas diferenças culturais, econômicas, políticas e até religiosas. Em Cristo é superado o “muro de separação”, fronteiras de diferentes tipos, ideológicas e políticas. Então, não somos somente um grupo de amigos, mas somos um em Cristo e cada pessoa, independente dos seus defeitos e pecados, carrega a dignidade de filho de Deus. Infelizmente continuam a existir muros, cercas, barreiras, portas fechadas por interesses egoístas! Daí a missão que a Igreja tem no mundo, de ser “sacramento ou o sinal e instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o gênero humano” (LG 1).
Precisamos conhecer mais e aprofundar a Doutrina Social da Igreja, para termos uma vivência coerente e integral das consequências da fé que professamos. O reducionismo mutila a fé, pois seleciona somente alguns pontos e ignora outros igualmente importantes. A Igreja nos ensina que não é possível aceitar o aborto, que sempre somos a favor da família, da superação da violência e da democracia, da educação e da saúde com qualidade para todos. Ajudaremos sempre a superar os preconceitos, a corrupção e a injustiça social. Devemos ter sempre um coração misericordioso, sobretudo com os mais pobres. Em tempos de pouca leitura e aprofundamento, muitos formam sua consciência e suas convicções somente assistindo algum vídeo rápido ou frases de efeito das redes sociais, mas, muitas vezes desconhecem a palavra oficial da Igreja. Além do Compêndio da Doutrina Social da Igreja (2005), recentemente o Papa Francisco apresentou o DOCAT (2016), que é uma versão especial do mesmo para os jovens. Ao apresentar o DOCAT, o Papa Francisco disse a respeito desta doutrina: “Ela brota do coração do Evangelho. Ela brota do próprio Jesus. Ele é em pessoa a Doutrina Social de Deus”. Temas atuais como a pessoa humana, o bem comum, a família, o trabalho, a economia, a política, a comunidade internacional, o meio ambiente, a paz e a caridade encontram-se bem fundamentados nestes documentos.
Esperamos que as lições deste pleito nos humanizem e nos ajudem a crescer como cidadãos e cristãos. Somos todos cidadãos de nossa Pátria Amada e, para os batizados, somos irmãos e irmãs em Cristo.
Dom Adelar Baruffi
Bispo Diocesano de Cruz Alta (RS)